Às vezes me sinto como um psicopata. Ou melhor, sociopata. Daqueles que convive conosco sem ao menos sabermos que eles nos cercam e fazem parte da nossa rotina. Às vezes me sinto camuflado, meio que involuntariamente, é como se minhas atitudes por mais explícitas que sejam não possam ser notadas, ou ainda como se eu não tivesse atitudes suficientes para que fossem notadas, ou que minhas atitudes sejam tão negáveis e repugnantes que as pessoas as ignorassem. Não sinto que a vida passa por mim, mas sinto como se eu passasse pela vida caminhando, anestesiado, pelas manchas de sangue que já deixei ao me machucar anteriormente... e tanto faz, doa o que doer, as coisas não mudarão.
E as coisas não mudarão.
A vida vai ser sempre assim. Eu vou ter sempre meus fracassos e meus erros que não vou conseguir lidar e superar, vou ter sempre a vida perfeita que eu sempre quis que é sustentada por arrependimentos e redenções e, por pouco, mudanças. E isso se sustém em mim, a base disso sou eu. Eu sou a lenha que alimenta a brasa que me corrói. Eu forneço as armas para o meu próprio assassinato. Eu me construo de forma auto-destrutiva. De minhas ideias me torno refém e de minhas palavras me faço cativo. Mais uma vez caminho anestesiado por um mar de fogo que me consome... consome sem dó ou piedade cada fibra do que eu fui um dia ou do que um dia eu seria. Continuo de cabeça erguida e como se meus erros estivessem abaixo do meu pescoço e eu não os pudesse ver eu os sustento na minha ignorância e mais uma vez sou auto-destrutivo. Como uma bomba tenho no meu triste desfecho a única razão da minha vida: auto-explosão sem que haja qualquer rastro para contar alguma história, sumir sem deixar nenhuma marca.
O medo não é de não deixar algo marcado... e sim o de não fazer algo que possa ser considerado como marco. Na verdade, não há medo algum. Simplesmente ignoro. Me esqueço. Me ignoro. Parece que eu destruo a minha vida. Acho que essa é a verdade. Sou senhor da minha vida. Não que isso seja errado. A forma com que o faço sim, isso é errado. Aqui e acolá algum erro, aqui e acolá uma ignorância.
Assim me faço o que eu sou. Assim me recolho a minha repugnância e falta de luz. Assim se faz a treva do que eu sou. Uma bomba que vive explodindo e nunca se recompõe.