Eu queria começar dando qualquer tipo de embasamento teórico que deixasse meu texto menos vago e mais sério, mas isso foge à minha natureza e dificulta meu “trabalho”, além de deixar tudo meio mecânico. Gosto de começar sem um alvo definido e terminar com menos foco ainda.
Nos últimos três anos eu passei por mudanças drásticas nos ambientes em que vivi a maior parte dos meus dias. E é interessante como essa mudança transcendeu o físico e modificou o que eu sou de maneira psicológica, emocional e espiritual. Hoje sou totalmente diferente do que era três anos atrás. Talvez não melhor ou pior, mas com mais certeza das minhas certezas.
Fui criado sempre em um ambiente Cristão Protestante, sempre fui à igreja nos domingos pela manhã e a noite, tinha aulas na “escolinha dominical”, aprendia histórias da Bíblia e era moldado lenta e gradualmente. Meu universo era pequeno e o pouco que eu sabia continha tudo que eu precisava. Foi assim por um bom tempo. Talvez por alguns 12 anos da minha vida. As histórias que ouvia sempre antes de dormir me instigavam a aprender cada vez mais. Rei Davi sempre foi uma das minhas personagens favoritas, talvez não por coincidência um ano antes de me formar no Ensino Fundamental II eu o representei em uma das apresentações que fiz no CRE, colégio cristão em que estudei por oito anos. Já não achava tão legar ser o Rei Davi ao sair de lá.
Aos poucos os milagres e passagens surreais da Bíblia perdiam sentido. O mar se abrindo, os peixes multiplicando-se, Adão e Eva, arca de Noé... Eu ia crescendo e parece que as histórias ficavam cada vez menos reais e mais dubitáveis. Já via o mundo de uma maneira diferente quando mudei de colégio e finalmente deixei de ser protegido de maneira até covarde pela religião que me resguardou sempre. A verdade não foi exposta sempre. Apesar de a verdade ser a principal ferramenta para a libertação.
Da Bíblia Sagrada, João capítulo 8, versículo 32 “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
A igreja, a instituição e não sempre os fiéis, foi um dia a mais poderosa “empresa” da Terra. A mais rica, a mais influente (tinha inclusive influencia direta em decisões políticas, o que de certa maneira acontece ainda hoje). Conhecida também por tortura, venda de salvação (frase absurda da própria igreja católica “quando uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do purgatório!”) que ajudaria na reforma da Basílica de São Pedro, execuções durante toda sua história, arquivos secretos, privação ao conhecimento, etc, etc, etc. A corrupção da entidade que comanda a ideologia adotada por milhões de pessoas levanta teorias da conspiração, diminuí sua influência e com o acesso fácil e imediato à informação que se tem hoje é cada vez mais difícil esconder a verdade. A igreja foi corrompida desde o início de sua organização, cargos no alto clero eram comprados e a partir disso o interesse pela fé era preterido por interesses econômicos. A religião perde credibilidade cada vez mais. Desde sempre.
E engana-se quem acredita que uma igreja é menos impura e condenável que outra. Pastores pelo país mentem a esmo em suas emissoras de TV compradas com dinheiro de ofertas dos fieis, prometem o dobro de qualquer oferta que for feita a igreja como se o dinheiro fosse investido na igreja que rende trezentas vezes mais que qualquer poupança, é realmente um milagre! As pessoas são enganadas. Caem na mentira. Buscam libertação e acabam enclausuradas ainda mais. Uma multidão caminha de mãos dadas buscando mais paz, amor, moral, ética... E na verdade perde-se na sujeira que o negócio da fé é ultimamente.
A religião substituiu a fé. A fé mantém religiões e suas doutrinas. Ou manteve algum dia. Hoje o dinheiro que circula por trás das religiões predominantemente cristãs no Brasil é a base das igrejas. Literalmente a base. Templos gigantescos são construídos, cada pequena porta onde antes era um boteco vira uma igreja e cada vez mais “eu sou evangélico”, ou “eu sou católico” vira status de Facebook, ou nas conversas de família, ou no debate entre sua mãe e a tia fanática religiosa, ou naquela conversa de toda segunda com seu amigo ateu...
Na verdade, há algo mais importante do que isso. As pessoas deixam de querer ser alguém melhor para querer ser alguém mais religioso, mais evangélico, mais católico, mais espírita, mais ateu. As bandeiras se levantam cada vez mais e com a faca entre os dentes as religiões se atacam. Porque o Pastor mente roubando e o Padre é pedófilo. Quantos outros são os sensos comuns que atraem e provocam discussões no Facebook ou em comentários de notícias no portal da Globo? É absurda a quantidade de defensores da verdade que existe ultimamente. Parece que o processo de degradação da igreja foi acompanhado e até ultrapassado pela degradação e massificação de seus fieis.
Eu teria vergonha de dizer que sigo alguma e qualquer religião, se ainda o fizesse. Há algum tempo desisti de defender qualquer ideologia. Acredito muito em Deus. Sinto Sua presença de maneira incontestável em minha vida. E talvez por isso imagino o que Ele sente. Olhando lá de cima, ou por todos os lados, o que nós todos temos feito com tudo. A corrupção da igreja é só um dos exemplos que eu poderia citar. O ser humano caminha de maneira louca ao colapso.
Talvez a corrupção eterna da igreja seja a maior prova de que o ser humano é imperfeito e podre. Totalmente podre. A igreja, instituição que deveria ser sempre sagrada e incontestável, carrega consigo inúmeras condenações. A religião virou um jogo. Assim como a vida das pessoas. Quem tem poder sente-se no direito de comandar vidas e o rumo de nações inteiras, como peças de um tabuleiro somos empurrados de um lado para o outro. É natural que por um tempo sintamo-nos sem rumo. Porém, a necessidade de mudança é urgente e logo que os sentidos são retomados deve-se ir à luta. Por uma sociedade mais justa, não utópica, mas simplesmente com mais fé. Espero ansioso e ativo pelo dia em que a religião cairá de podre e a fé ressurgirá como instrumento de libertação.
Fé.
31.12.2012