A crônica dos cinco meses

Andei pensando, na verdade isso é grande parte do que fiz nos últimos cinco meses, e a conclusão a que cheguei é que a maior parte dos últimos três anos eu passei sendo alguém que não faz parte da minha essência. Meus momentos de descontrole superaram os de “normalidade” e eu perdi muito por causa disso. Não só perdi pessoas que se afastaram, que desistiram de mim, mas perdi parte do que eu sou, do que eu gosto e talvez perdi parte do que um dia eu quis ser.  Pretendo resgatar quase tudo.
Os motivos não importam, afinal o problema sempre foi meu e a necessidade de passar por eles sem que eu me tornasse outra pessoa era minha. Por outro lado, se ao menos eu tivesse me dado o tempo necessário de pensar, repensar e só depois agir... Tudo poderia ter sido diferente. A razão fez falta. Culpo meu sentimento imediatista mimado de filho único por muitas das minhas características reacionárias e nem um pouco justas, coerentes ou necessárias; mas também não me esqueço de tudo que passei, das mudanças que presenciei e das responsabilidades que tive de assumir. Eu fui uma bagunça. Mas acabei crescendo em alguma denotação ainda obscura. Tive bastante tempo de colocar tudo meio que em uma balança, mas ainda não encontrei o equilíbrio.
Sobretudo isso, eu ainda imagino a necessidade gritante de espaço que todos temos. Afinal, dia após dia todos enfrentamos situações que bagunçam com a mente, com a alma, com o coração, com o espírito e consequentemente com a nossa essência. Dia após dia não somos mais o que éramos antes. Dia após dia precisamos de algum espaço que nos traga de volta ao que realmente somos. E se ao menos nós nos déssemos a oportunidade de voltar a agir normalmente, de voltar a deixar a essência superar o momentâneo e  jamais esquecer que por trás daquela atitude descabida existe uma justificativa, - que insignificante para você ou não, afetou o ser confuso que adotou aquela postura indelicada, impensada, descabida, destrutiva, explosiva, degradante, imoral, cruel, rude, anormal -, e mais do que uma justificativa, ainda existe alguém ali que em algum momento se deixou revelar assumindo todos defeitos e incapacidades e que em nenhum momento negou um pedaço que fosse de sua alma, à você, à quem quisesse ver. 
Permitir-se ser menos “eu” e aceitar que apesar da necessidade da solidão, a felicidade está onde se tem compaixão, cuidado, amor e consequente completude. Ninguém é autossuficiente, elevando suas próprias qualidades e apontando defeitos em tudo e em todos. A impossibilidade de levar em frente o que eu acreditava como ideal esbarrava na necessidade de felicidade, mas nem disso eu sabia. Tive que entender meus erros, aceitar que tudo que eu achei que fosse realmente tinha passado e que a necessidade de me resgatar de mim mesmo era urgente. Afundara junto e fiquei sozinho.
Depois de um tempo é natural retomar a realidade, encontrar em si mesmo um motivo que dê vontade de ser feliz: simplesmente por ser o que eu sou. Até porque ser feliz com alguém depende primordialmente de estar feliz consigo mesmo. Fazer alguém feliz é parte de um processo que envolve sorrir e fazer sorrir, chorar e saber acalmar um choro, saber e entender o que agrada e aceitar ser agradado, respeitar antes de qualquer coisa e saber o momento de deixar.
De deixar um pouco de si mesmo para trás, ou ainda de resgatar o que de si se perdeu. O processo de resgates nunca acaba. Eu busco o equilíbrio incessantemente. O equilíbrio é alcançado quando uma ponta da vida encontra a outra e num sorriso todo o resto faz sentido e parte nenhuma de ninguém se perde, apesar dos momentos em que a tormenta arranca parte do que é necessário e irrevogável, encontra-se no fundo da essência de si mesmo os motivos pelos quais houve necessidade de outro alguém para te fazer sentir completo.
Hoje acho que encontrei meu caminho de volta. A vida vai dar a oportunidade de eu provar pra mim mesmo que minha essência não se perdeu, ou que ao menos é possível recuperá-la.
Espero. 

21.05.2013