Passa-se boa parte da vida tentando
a manutenção de uma realidade paralela. O que é quase aceitável, afinal a
realidade é geralmente assustadora e desafiadora o suficiente para que muitos
se escondam. O problema reside no fato de que, ao esconder a realidade,
perde-se noção de que a fantasia é pura e simplesmente irreal e que a realidade
é praticamente imutável sob o julgo da nossa falta de tesão em viver.
O medo de ter que encarar a vida é
mais facilmente percebido nos momentos de mudança. Até porque a rotina - da
realidade - às vezes cria uma microfantasia, um exemplo disso é a bolha da vida
na escola, faculdade ou emprego. Alternamos entre bolhas a vida toda. Logo saí
da bolha do Ensino Fundamental e me senti livre. Saí da bolha do Ensino Médio e
mais uma vez me encontrava livre. Na faculdade a mesma coisa. De repente acabo
me aprisionando no sentimento de liberdade trazido pela falta dela.
Sem mais nem menos encontramo-nos
perdidos. Não por falta de anseios, sonhos, desejos, projetos... Mas
simplesmente por acharmos sempre que todos eles são infactíveis. A
impossibilidade de tudo acaba nos afastando de realizar nossa própria realidade
enquanto, na verdade, as possibilidades são tantas que nos seria possível escrever
a mesma história de infinitas maneiras, com infinitas pessoas e em infinitos
lugares – acredito que assim que a vida ocorra fora do mundo preto e branco no
qual nos abrigamos.
O
medo é a maior prisão que carregamos. Medo de simplesmente ser, de fazer, de
lutar, de rir, de dançar, de emagrecer, ou de simplesmente não se importar com
os padrões, de ser autêntico, de se vestir com moletom o tempo todo, de andar
por aí com um poncho sobre os ombros porque assim o mundo parece um pouco mais
afastado, dando mais espaço para que se possa respirar.
Há
ainda o medo de se esforçar para realizar objetivos, por mais necessário que o
esforço seja. Eu tenho esse medo. Acredito que esse receio possa ser atribuído
à sociedade das aparências, essa coisa de que “ter” é mais importante do que
“ser” e “parecer” é muito mais atrativo do que realmente mostrar o que se é. Acho
que já tive medo de seguir em frente com alguns projetos por imaginar que a
imagem que fariam de mim seria indesejável (top 5 na lista dos pensamentos
idiotas).
Ao deixar sonhos de lado, seja por
preguiça, medo, idiotice, ou tudo isso junto, acabamos mudando o que somos ou
essencialmente seríamos. Na maioria das vezes nós somos os nossos próprios destruidores
de sonhos. Nossos próprios limites são maiores do que as impossibilidades do
mundo que, muito pelo contrário, nos abre milhares de portas todos os dias.
Falta ousadia de levantar mais cedo,
ou mais tarde, caminhar, ou ler, ou escrever, ou ouvir músicas novas, conhecer
pessoas novas, ou dormir mais. Há medo demais do desconhecido, mas o
desconhecido é, mais do que importante, fundamental para que não nos limitemos
às bolhas que a rotina nos impõe. Quebre a bolha e faça da Terra a realidade e
não as quatro paredes do seu quarto.
Quebrando a rotina das nossas
fantasias é natural que se perceba que a realidade é, além de assustadora como
afirmei lá no primeiro parágrafo, atraente, incitante, colorida, repleta de
aromas e sensações que sem dúvida trazem novo ânimo. Acordar e perceber que há
uma infinidade de possibilidades é razão suficiente para que se corra atrás dos
sonhos. Aceitar que a segurança trazida pelo quarto e a insegurança de ser tão
pequeno frente à realidade são sentimentos paradoxais e que tem seus efeitos “paradoxados”.
A segurança do quarto não estimula e a insegurança da realidade instiga. Os
sonhos começam no quarto e podem morrer nele também, só tornam-se realidade
quando as quatro paredes são superadas e assim não há mais um ambiente
controlado.
Buscamos prever o imprevisível e controlar o
incontrolável quando, na verdade, a incerteza do passo seguinte é o que nos faz querer seguir.