A cada
biênio o tema “política” volta a fazer parte da rotina do brasileiro médio.
Geralmente certo sentimento patriota toma o coração tupiniquim nos meses,
semanas e dias que antecedem e seguem as eleições para prefeitos, vereadores,
deputados, senadores e presidente. A discussão é travada à ferro e fogo, mas se
dissipa no ar logo após o veredito das urnas.
O ser humano é um ser político de
nascença e por necessidade. A existência humana em sociedade exige o debate
entre os valores trazidos de casa e aqueles que se encontra no espaço público.
A política, através de mecanismos do Estado, faz a mediação de interesses
comuns e privados a fim de garantir a sobrevivência em âmbito amplo e geral.
A consciência de que é necessário
ser um sujeito político parece tomar conta da sociedade civil somente nos
momentos de debate ideológico direto que antecedem as eleições. Ao menos no
Brasil o cidadão atrela a cidadania ao som estridente do botão verde que confirma
“45” ou “13” no mês de outubro. Tal relação entre brasileiros e política revela
o caráter imediatista com que a sociedade trata o ato de fazer política e até
mesmo a suas necessidades pessoais.
Ser político ao brasileiro é cada
vez mais vencer um jogo de ideias e ideais. Sem flexibilidade ou pensamento
progressista, eleitoras e eleitores vestem-se com armadura e escudo da razão,
sobem ao campo de batalhas, e com espadas de preconceito junto a dados fantasiosos travam guerra sanguinária com um único objetivo: ser considerado correto
e sair como o vencedor dono da razão.
Hoje a sociedade é composta por
indivíduos que, mais do que o bem geral, querem fazer valer as suas ideias
pessoais para salvar a humanidade da ditadura feminazi, gayzista, comunista,
maconheira e abortista. As diferenças são tratadas com fundamentalismo
essencial e aos poucos o ato político se esvazia de sentido: afinal, se não há
possibilidade de se construir algo novo a partir do diferente, para que fazer
política?
Somos hoje sujeitos políticos
somente para apertar teclas na urna. Dissociamo-nos da política a todo tempo
por acreditarmos que não somos parte da festa da corrupção que acontece nas
câmaras ao redor do país. Deixamos a política aos políticos e assim abdicamos
da nossa cidadania caminhando no sentido oposto ao da democracia participativa.
O sujeito humano é político mesmo
quando opta por não o ser, porque a vida em sociedade exige isso. A sociedade é
formada em conjunto, decide seus rumos em conjunto e sofre as consequências de
suas escolhas também conjuntamente. Se é impossível não ser um sujeito
político, portanto é também impossível não sermos considerados ao menos
cúmplices das decisões tomadas pelas “autoridades políticas” da sociedade que
nós mesmos sustentamos.
Aceitar o papel de cidadão
responsável pelo rumo da sociedade parece ser pesado ao brasileiro. Nossa
sociedade mostra-se frustrada e cansada dos escândalos e descrente, por isso,
em mudanças. A nossa concepção do futuro desanima qualquer ação que possa
subverter esses próximos e iminentes passos. Por outro lado, resgatar a
capacidade política através da cidadania – ao contrário do movimento
“apolítico” que se vê ultimamente - talvez seja a chave para que grandes
mudanças realmente impactantes aconteçam em nossa sociedade.
12 de
Fevereiro de 2015