Já não era compreensível a dor de ter perdido e ao mesmo tempo ter conquistado um amor tão querido e esperado. A redundância do passar dos dias e a coerência com que a amplitude de sensações a encobre cria uma atmosfera onde o desespero é o oxigênio que se necessita para viver. Não poder tocar o rosto, se enrolar nos cabelos, se perder nos beijos, o que lhe sobra é o perfume da blusa esquecida no canto do quarto, que em sua insignificância se fez grande, e nas mãos de Isa, virou amuleto; quando não se tinha mais o que chorar e os braços da mãe ou as palavras do pai não eram suficientes, subia ao seu quarto, se jogava na cama, tirava a caixa que estava cuidadosamente colocada perto de um dos pés da cama e descobria a blusa, a apertava como se ali fosse Pê, que lhe direcionava o sorriso mais lindo de todos. Mas não. Nem de perto isso faria Isa se sentir melhor por mais que 30min, maldita “morfina” que lhe cabia agora, nada mais.
Mas não só de sofrimento se perdia. A única razão de felicidade, ele, ainda a motivava.
Uma tarde, após algumas das rotineiras provas, chegou mais cedo em casa, viu que a mãe, meio cabisbaixa, conversava no telefone de uma forma óbvia que “dizia” que não queria ser notada. Sentou-se e apenas assistiu, por mais que não conseguisse ouvir nem uma simples frase. Mais ou menos 15min depois, levantou-se Patrícia da cadeira de madeira em um cômodo mais escuro da casa onde se encontravam alguns dos livros preferidos por ela, procurava algo que secasse suas lágrimas, e assim o fez com um lenço. Isa foi a cozinha, ainda com a bolsa (uma daquelas que toda menina usa ultimamente: grande, bagunçada e chamativa) dando a entender que acabara de chegar. Tentando esconder o nó na garganta por ter choramingado por um tempo, levantou a voz, perguntou: “Filha, como foi seu dia? Papai tem uma reunião aqui por perto, pensei que pudéssemos sair para jantar, há algum tempo não fazemos isso.” Isa não exitou, respondeu que sentia saudades de tudo que viviam como família, disse que ajeitaria as coisas no quarto, tomaria um banho e logo sairiam ao encontro do pai em um restaurante que frequentam desde que Isa era pequena. Demorou 1 hora para que Isa ficasse pronta, saíram então. A música que tovaca no rádio do carro era a que mais lembrava Isa do tempo que, quando ainda criança, cantarolava músicas em inglês, tentando se parecer cada vez mais com a mãe, lembrando disso as duas trocaram olhares e se entenderam perfeitamente, sorriram.
Chegaram, lá estava seu pai, Márcio, todo trajado de uma forma que buscava agradar a quem lhe pagava o salário. Isa correu para abraçá-lo como há muito não fazia, e ele sorriu, como fazia constantemente. Talvez, fosse o pai que todos gostariam de ter, atencioso, carinhoso... enfim, perfeito. Patrícia trocou olhares com Márcio, e se entenderam só por isso. Sentaram-se os três a mesa, pediram algo para beber e logo em seguida se escusaram por ter que conversarem rapidamente em particular, Isa não ligou. O assunto parecia ser de suma importância, algo estava errado no Canadá, onde Pê fazia seu intercâmbio, nada mais do que isso sabia, e Isa não fazia ideia que muito poderia mudar a partir do momento em que tudo se fizesse revelado. O telefone era um prenúncio, do nada tudo poderia mudar. Talvez, grande obstáculo que um fim desse a tudo.
Que texto incrível. É tão bom ler palavras bem usadas. Adoro ler textos de quem sabe escrever, haha. Adorei o blog e já to seguindo :*
ResponderExcluirHm, obg. ;) As outras partes dessa história ficaram lá pra baixo nas postagens. Tenho mais alguns "capítulos" pra postar ainda.
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